Associação e coletivo de mulheres divulgam nota de repúdio aos casos de feminicídio

A Associação Cultural e Beneficente Carolina Maria de Jesus e o Coletivo de Mulheres Carolina Maria de Jesus, vem a público emitir uma nota de repúdio sobre os casos de feminicídio que ocorreram em Santa Bárbara d’Oeste na última semana (dia 03 e dia 08 de setembro de 2017).

Confira a nota da Associação e do Coletivo na íntegra: “Segundo o Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre Violência contra a Mulher no ano de 2013, o feminicídio é a instância última de controle da mulher pelo homem: o controle da vida e da morte. O Brasil é o país com a quinta maior taxa de feminicídio no mundo, sendo as mulheres negras as mais atingidas, com um aumento de 54% no ano de 2013. A cada hora e meia uma mulher é assassinada por um homem no Brasil, vítima do machismo, racismo, etnocentrismo, lesbofobia e por outras formas de desigualdade que se manifestam pela forma como as mulheres vivem.”

“O contexto histórico do Brasil, que vem de uma cultura machista e patriarcal, de coisificação e submissão da mulher pode ajudar a explicar o porquê a discriminação de gênero são tão fortes no nosso país a ponto de levar a morte de nossas mulheres.”

“Sabemos que a criação da lei que trata o feminicídio é importante, pois tira o problema da invisibilidade e permite que políticas públicas sejam aplicadas de maneiras mais específicas. Sabendo da relevância da criação de uma legislação que trate a violência de gênero e para que a mesma não se torne simbólica, é que por meio dessa nota cobramos do poder público investimentos em políticas que visem prevenir esse tipo de violência, que trabalhem o empoderamento da mulher, a educação da nossa sociedade, voltada para a igualdade e equidade entre os gêneros, coibindo toda prática de violência contra a mulher, é necessário falar sobre a cultura do estupro, do patriarcalismo, sobre o machismo, questão de gênero e orientação sexual, dentro das casas, escolas, igrejas e rodas de conversa.”

“Como movimento social voltado para a periferia e a mulher negra, sabemos que é necessário que essas políticas públicas cheguem até os bairros em situação de vulnerabilidade social, em que vivem as mulheres negras, periféricas e que protagonizam as estatísticas de violência doméstica e feminicídio no nosso país, afinal de contas, recaem sobre estas o machismo, o racismo e o sexismo em excesso.”

“Santa Bárbara foi palco de dois feminicídios nos últimos cinco dias, uma mulher negra e uma mulher branca protagonizaram assassinatos cruéis, com impossibilidade de defesa pessoal, provando que todas estão sujeitas a esse tipo de violência, pois todas estão submetidas a um processo histórico de discriminação de gênero, ainda assim, sabemos que existem outros casos que não ganharam repercussão em nosso município, o que não os tornam menos importantes, casos ocorridos em bairros periféricos, com mulheres negras, pobres e que foram silenciadas.

Estamos à disposição do Serviço Social, da Segurança Pública, do Conselho da Mulher e dos Poderes Legislativos e Executivos, para juntos traçarmos planos de empoderamento feminino, medidas socioeducativas e tantas outras ações afirmativas em prol da mulher e contra qualquer tipo de violência de gênero.”

“Enquanto essa nota de repúdio é escrita, uma mulher está sendo estuprada, assediada, violentada e morta. Santa Bárbara não pode se calar. Mexeu com uma, mexeu com todas.

O grito silenciado das jovens barbarenses, encontra eco e está bem  vivo dentro da Associação Cultural e Beneficente Carolina Maria de Jesus e o Coletivo de Mulheres Carolina Maria de Jesus.”