Ex- União, André Alves brilha na Hungria
Jogador atuou por quatro anos pelo União e pensa em se naturalizar húngaro
O atacante André Alves dos Santos, 27 anos, permaneceu no União Barbarense quatro anos - onde atuou de 2002 a 2005, vindo depois para o time de Suzano e na sequencia foi vendido para o futebol europeu.Ele chegou ao União com 19 anos. Hoje é ídolo e artilheiro do futebol da Hungria. A atual temporada tem sido especial para André Alves. O atacante ganhou o Campeonato Húngaro com duas rodadas de antecedência jogando pelo Videoton e é o artilheiro da competição com 24 gols. Desde 2005 no país, tendo passagens por Honvéd e Kaposvár, o jogador afirmou em entrevista exclusiva que pensa em se naturalizar húngaro.
“Vou esperar o término desta temporada e, se eu permanecer, acredito que vou dar entrada na cidadania. Se eu pudesse defender a seleção húngara, estaria à disposição. Estou há cinco anos aqui e as minhas filhas praticamente cresceram aqui”, disse André Alves, natural de Dourados (MS).
O Videoton conquistou o Campeonato Húngaro com duas rodadas de antecedência. O que esse título significa para você?
Graças a Deus, conquistamos com duas rodadas de antecedência. É o primeiro título que eu ganho desde que cheguei à Hungria. E é o primeiro da história do clube. É uma alegria entrar para a história do time. Acredito que não só eu como todos os jogadores ficarão na história do clube e dos torcedores do time.
A quais fatores você atribui o sucesso da equipe nesta temporada?
A nossa equipe foi bem planejada e bem montada. E o time está bem. No primeiro turno, terminamos em primeiro e mantivemos a nossa posição no segundo turno.
Vocês tiveram alguma dificuldade durante o campeonato?
A gente montou uma equipe e só alguns jogadores ficaram. No começo a gente até teve dificuldade em nos encontrarmos na parte tática. Empatamos em alguns jogos no início, mas depois conseguimos manter uma sequência.
Você é o artilheiro do Campeonato Húngaro. É o melhor momento na carreira?
Acredito que estou vivendo o melhor momento. Estou uns cinco anos aqui e costumava fazer entre 10 e 15 gols por temporada. Nesta estou com 24 gols.
Com boas atuações, você pensa em conseguir uma transferência na fim da temporada?
A gente sempre trabalha visando o futuro. Mas acredito que isso cabe ao clube. Tenho contrato por mais um ano. A gente sempre almeja algo melhor e quem sabe um clube de nome considerável na Europa. Estou esperando o fim da temporada para ver se o clube tem interesse em me vender ou manter.
Tem alguem país que você tem vontade de jogar?
Sempre deixei claro que eu queria ir para a liga espanhola ou portuguesa, que é mais fácil a adaptação até para as minhas filhas pequenas. Eu tenho uma de seis e a outra de dois anos. Então seria fácil para a minha família se adaptar pela língua.
Quais são os destaques do campeonato húngaro? Tem algum que é brasileiro?
Tem poucos brasileiros na Hungria. Tem o Danilo, do Honvéd e o Pedro, do Kaposvári. Por serem brasileiros, eles vêm se destacando. E eu, com os meus 24 gols, venho chamando a atenção também.
Você tem contato com o Danilo e o Pedro?
A gente sempre conversa. Joguei com o time de Danilo e empatamos em 2 a 2 [no último dia 8]. Acabou o jogo e a gente conversou, perguntamos como estavam as coisas, a família. A gente procura sempre se encontrar em Budapeste. O Pedro fica um pouco mais distante, mas estamos sempre nos falando.
Quais as diferenças entre o futebol húngaro e brasileiro?
Não vou falar que o futebol húngaro é ruim ou fraco. Ele tem um nível bom. Mas o brasileiro é bem disputado, tranquilo de jogar e acredito que é forte a nível mundial. O húngaro está começando a aparecer agora. Aqui o futebol é mais força e raça. Utiliza-se muito o vigor físico, o correr. No Brasil é mais classe e técnica e o futebol chega a ser mais bonito.
Você está na Hungria desde 2005. Como foi a sua adaptação ao futebol e ao país?
Quando eu cheguei não foi fácil. Vim aqui em julho de 2005. Tinha duas opções: ou ia para a Bélgica ou para a Hungria. O meu empresário acabou optando pela Hungria. Quando eu cheguei aqui não sabia falar nada, muito menos o inglês. Mas graças à Deus tive a felicidade de encontrar aqui um jogador que era de Moçambique e me ajudou. Ele me deu um pouco de força e esperança. Quando cheguei aqui, estava calor. Mas depois veio outubro, novembro e o frio. O frio é rigoroso, às vezes, fica -10ºC e temos que jogar com -5ºC, -10ºC. Para quem estava no Brasil, acostumado a disputar o campeonato no calor e com sol, e chega aqui e encara essa temperatura, não é fácil. A língua também. Até dentro de campo ou para pedir as coisas em restaurantes. Mas nada que com o tempo a gente não possa superar.
E como era atuar pelo Luch-Energiya, de Vladivostok. As viagens eram muito cansativas?
Era um pouco. Eu morava em Vladivostok e não foi fácil. Quando a gente ia jogar em Moscou, tínhamos que pegar um vôo de nove horas e ainda encarar o fuso horário de sete horas de diferença. Se em Moscou era meio-dia, em Vladivostok era sete da noite. Então a gente tinha essa dificuldade. Mas isso não era o maior problema. A dificuldade também foi a família. Eu levei a minha esposa e a minha filha e elas não se adaptaram devido ao frio. Então eu optei por voltar. Até tive propostas de outros países, mas resolvi retornar para o futebol húngaro. Fui para o Videoton, estou bem e espero poder, agora, buscar uma coisa melhor.
Então você resolveu voltar por questão de adaptação?
Isso. O futebol da Rússia é bom e a liga é boa. A Rússia em si legal. O que acabou dificultando para mim foi a diferença de hora, a minha filha tinha três anos e começou a passar mal, não sei se pelo clima. Eu fiquei seis meses. A passagem foi boa e me deu muita experiência. Eu aprendi muito.
Antes de você ir para a Hungria, por quais clubes brasileiros você passou?
Primeiro joguei no Villa Nova de Minas, no juvenil e no júnior. Depois eu me profisionalizei no Guararapes, de São Paulo. O meu empresário viu que eu tinha um potencial e acabou me levando para o União Barbarense, onde fiquei quatro anos. Saí em 2005 e fui para o ECUS de Suzano. No meio de 2005, me transferi para a Europa.
Você pensa em voltar para o Brasil?
Futuramente, a gente sempre pensa. Eu penso em ficar mais três ou quatro anos na Europa e quem sabe no futuro voltar para o Brasil.
Cogita em se naturalizar húngaro?
A imprensa daqui sempre me pergunta isso. Vou esperar o término desta temporada e, se eu permanecer, acredito que vou dar entrada na cidadania. Se eu pudesse defender a seleção húngara, estaria à disposição. Estou há cinco anos aqui e as minhas filhas praticamente cresceram aqui. Então eu já me considero um pouco húngaro. Em todos os clubes que joguei, sou bem recebido. O povo me acolheu muito bem aqui. Lógico que eu nunca deixo as minhas raízes. Sinto falta do Brasil e quero um dia voltar.