Espécie rara na cidade: anhumas fazem morada em Santa Bárbara

Um flagrante de uma espécie que faz parte da lista de fauna ameaçada de extinção do Estado de São Paulo, a anhuma, foi feito pela equipe que realiza o levantamento de fauna no município de Santa Bárbara d’Oeste, após alerta dado pelos produtores rurais do Sítio Tunussi. Em visita ao local, os técnicos registraram a presença de um casal e três filhotes na propriedade. Foi o primeiro registro da anhuma em nosso município.

O avistamento da anhuma em nosso município é um episódio a ser notado, pois segundo os especialistas, a presença da ave é um sinal de que o ambiente está preservado. “É um bioindicador positivo. A presença de uma ave que costuma viver em áreas mais preservadas indica que a área possui características ecológicas que podem manter a vida desse tipo de espécie", ressalta o biólogo Luiz Eduardo Chimello de Oliveira, do Centro de Controle de Zoonoses.

"O trabalho de preservação ambiental da família Tunussi é um exemplo claro da importância das ações de restauração florestal, trazendo um reequilíbrio da fauna associada e incremento da biodiversidade em nosso município, com reflexos na qualidade da água", concluiu Mônica Tortelli, funcionária do DAE barbarense, que faz parte da equipe técnica do município.

O ambiente onde o casal de aves apareceu e se reproduziu é uma área ricamente preservada no município, dentro do Sítio Tunussi, cujos proprietários são regionalmente conhecidos por seu sistema de produção orgânica e certificados desde 2010.

A anhuma é uma ave de grande porte que tem esporas nas asas e uma espécie de chifre. É comum no Brasil e é considerada a ave símbolo do Estado de Goiás,no entanto, é pouco avistada por aqui, tanto que está classificada como "quase ameaçada" na lista de fauna ameaçada de extinção no Estado de São Paulo. O nome científico da espécie, Anhuma cornuta, faz menção às características físicas da ave, já que anhuma tem origem na língua tupi (nhãm) e tem o significado de "pássaro preto". O segundo nome, cornuta, vem do latim “cornutus”, cujo significado é chifre. A ave possui sobre a cabeça um espículo córneo de 12 centímetros. Além disso, possui nos ombros dois grandes esporões para sua defesa. 

Olhando essa ave tem-se a sensação de que os seus pés são deformados, mas é só uma ilusão de ótica decorrente dos grandes dedos da ave. Os dedos grandes distribuem a pressão da ave sobre o substrato, evitando que ela “atole”, já que gosta de se alimentar e nidificar em áreas alagadiças e brejosas. A anhuma gosta de gramíneas que ficam nos terrenos alagados e também se alimenta de plantas flutuantes. Apesar da preferência pelas áreas alagadiças, é bastante comum ver a Anhuma pousada na copa das árvores, e muitas vezes elas são confundidas com os urubus.

No Estado de São Paulo a anhuma deve ter sido outrora uma ave comum, já que está simbolizada nas bandeiras das cidades de Guarulhos e Tietê. Historiadores contam que moradores ribeirinhos buscavam nelas o remédio ou proteção para toda sorte de males. "Especialmente do unicórnio, mas também dos esporões e até dos ossos, em particular dos ossos da perna esquerda, faziam-se amuletos e mezinhas contra ramos de ar, estupor, mau-olhado, envenenamento e mordedura de animais" (Sérgio Buarque de Holanda, em "Caminhos e Fronteiras").