Cielo lança projeto no União e fala da carreira

Cielo participou do lançamento do seu projeto no União

Cesar Cielo, campeão olímpico e mundial, esteve presente na quarta-feira na apresentação do segundo núcleo do Novos Cielos, projeto de seu instituto, em sua cidade natal, Santa Bárbara D´Oeste.O prefeito Denis Andia, autoridades e o presidente do União Jairo Araujo estiveram presentes. Além da participação no evento, o recordista mundial dos 50 m e 100 m livre falou com os jornalistas pela primeira vez desde o Troféu Maria Lenk, realizado em abril, no Rio. O nadador afirmou que voltou a nadar após acompanhar a Olimpíada pela televisão, mas disse que não tem previsão de retorno às competições. Também contou um pouco de suas atividades nos últimos meses. A seguir, os principais tópicos da conversa: Futuro Decidi dar uma pausa nas competições. Não competi desde o Maria Lenk e não tenho previsão. Mas dei uma acelerada na parte fora da água, com alguns projetos que estava planejando. Nunca vou deixar de ter contato com a água, são 22 anos dentro da piscina. É lá a minha meditação. Tenho mantido contato com água, mas estou deixando as coisas acontecerem naturalmente. No ano passado vivi uma fase em que me questionei se continuava ou não, e quando o ciclo terminou para mim, fiquei em uma certa paz. Era a hora de dar um tempo mesmo, foi difícil treinar este ano. Meu lado competitivo sempre vai existir, está vivo em mim. Mas só posso voltar se tiver a certeza de que quero voltar, porque trabalho a mil por cento. Tenho que estar disposto a pagar qualquer preço, como sempre fiz. E essa vontade vai aparecer de forma natural. Instituto Cesar Cielo A ideia do Instituto é ajudar na renovação, oferecer uma oportunidade. A natação do interior – que posso dizer que é o maior celeiro da natação brasileira – está praticamente acabada. Hoje, a gente vê os torneios com 250 atletas, da categoria petiz a sênior. Na minha época eram 300, 400 atletas só nas categorias petiz e infantil. Entramos em uma regressão. O Chico Piscina acabou esta semana e a gente viu alguns resultados significativos. Dali pode sair o time de 2020, 2024. Meu primeiro sonho era trazer o Instituto para Santa Bárbara D’Oeste. O meu segundo sonho era trazer uma equipe de alto rendimento para a cidade. Quem sabe a gente não faz de Santa Bárbara a Saquarema da natação(referência ao centro de treinamento do vôlei) e o treinamento da seleção para 2020 não seja aqui? A criação do Instituto Cesar Cielo Quando eu voltei dos Estados Unidos disse aos meus pais que precisava criar um instituto. As medalhas, por mais bacana que sejam, efetivamente não mudam as coisas. Então pegamos o formato de uma instituição americana, do Alabama, e colocamos na natação, porque é o que sabemos fazer. Aprendemos bastante porque não fazíamos ideia de como isso funcionava no Brasil e posso dizer que, hoje, minha mãe (Flávia Cielo) virou expert em projeto social e é o que ela mais gosta de fazer. Tenho a sensação de que é uma obrigação minha fazer isso, mesmo que eu não faça por obrigação. Mas me sentiria muito vazio se não fizesse nada. Não espero que daqui saia um campeão olímpico, mas espero poder ajudar, que seja com uma bolsa no colégio, em uma faculdade… Em São Paulo já conseguimos mandar três meninos para os Estados Unidos, com 100% de bolsa acadêmica. Se no passo a passo chegarmos a ter alguém que vá para uma Olimpíada, a gente vai para cima. Mas o principal é auxiliar no rumo que a vida deles for tomando e fazer enquanto tiver patrocínio, ajuda externa. Atividades dos últimos meses Sou acelerado, fiz muitas coisas. Não paro de pensar. Fiz algumas palestras e tem mais uma no fim do mês. Também formatei uma clínica que vou dar em duas cidades. Em casa, o menininho está dominando. TV está complicado, já decorei as musiquinhas dos desenhos. A sala está colorida, cheia de brinquedos. Desde o Maria Lenk já li uns 13 livros, vou achando coisas para fazer quando o nenê está dormindo. E tem sido bacana essa parte de querer mudar as coisas fora da água, com a molecada aqui e no Centro Olímpico (dos Novos Cielos). Natação brasileira na Olimpíada Acho que foi um recorde de finais. É um grupo relativamente jovem. O mais velho era o Thiago Pereira. A medalha foi um resultado que faltou para a gente ficar um pouco mais tranquilo. Mas não foi tão ruim quanto parece. A natação está em uma fase de transição, já passamos por outras. A transição de gerações é muito deficiente. Sempre brinquei com o pessoal da França que não dá para aguentar os franceses! Primeiro eram o Alain Bernard e o Fred Bousquet. Daí vieram o Manaudou e o Yannick Agnel. Para 2020, vão ser outros dois. A gente precisa fazer como os caras. Na minha prova, olha a Austrália: em 2008, era o Eamon Sullivan; em 2012, o James Magnussen. Em 2016, foram o Kyle Chalmers e o Cameron McEvoy… Sempre renovando, sempre aparecendo gente nova. Precisamos aprender essa fórmula. Não dá para ficar empurrando nas costas do Thiago Pereira, que está na Olimpíada desde 2004, ficar todo o peso em cima da prova dele. Ausência Se quisesse dar uma pausa, precisava ficar longe do meio. Precisava ficar um tempo fora para recarregar as energias nessa parte de vida comum, que eu nunca respeitei porque minha prioridade sempre foi fazer o melhor no esporte. Não queria ter agenda fixa, queria tirar essa rotina da minha vida. Mas a verdade que eu sinto falta dela. Sou um cara regrado, sempre fui. Mas nunca tive um momento de relaxar. Então, tirei esse momento para mim, para curtir meu filho, Desde 2004, foi o primeiro semestre que eu tirei para fazer o que eu quero, na hora que eu quero. Foi importante, mas estou sentindo falta da rotina. Acho que, principalmente neste semestre, percebi que o ser humano odeia ser forçado. A gente tem de se sentir levado, atraído…